INTEGRAL CONSTRUÇÕES
E COMÉRCIO LTDA
2º
Seminário para ISO 9001:2000 - Dias 31/01 e 01/01
- 14 às 18hs - SEBRAE
Tema: ACREDITAR E OBTER
Texto: ENSINAR O QUE NÃO SE SABE
Autor: RUBENS ALVES
Ensinar o que não se sabe
...e chega o momento quando o Mestre toma o
discípulo pela mão, e o leva até o alto da montanha. Atrás, na direção do
nascente, se vêem vales, caminhos, florestas, riachos, planícies ermas, aldeias
e cidades. Tudo brilha sob a luz clara do sol que acaba de surgir no horizonte.
E o mestre fala: “Por todos estes caminhos já andamos. Ensinei –lhe aquilo que
sei. Já não há surpresas. Nestes cenários conhecidos moram os homens. Também
eles foram meus discípulos! Dei-lhes o meu saber e eles aprenderam as minhas
lições. Constroem casas, abrem estradas, plantam campos, geram filhos... Vivem
a boa vida cotidiana, com suas alegrias e tristezas. Veja estes mapas!” Com
estas palavras ele toma rolos de papel que trazia debaixo dos braços e os abre
diante do discípulo.
“Aqui se encontra o retrato deste mundo. Se você
prestar bem atenção, verá que há mapas dos céus, mapas da terra, mapas do
corpo, mapas da alma. Andei por estes cenários. Naveguei, pensei, aprendi.
Aquilo que aprendi e que sei, está aqui. E estes mapas eu lhe dou, como minha
herança. Com eles você poderá andar por estes cenários sem medo e sem sustos,
pisando sempre a terra firme. Dou –lhe o meu saber”. Aí o mestre fica
silencioso, olhando dentro dos olhos do discípulo. Ele quer adivinhar o que se
esconde naquele olhar. Examina seus pés. Nos pés sólidos se revela a vocação
para andar pelas trilhas conhecidas. Quem sabe isto é tudo aquilo de que aquele
corpo jovem é capaz! Quem sabe isto é tudo o que aquele corpo jovem deseja! Se assim
for, talvez que o melhor seria encerrar aqui a lição e nada mais a dizer. Mas o
Mestre não se contém e procura, nas costas do seu discípulo, prenúncios de asas
– asas que ele imagina haver visto como sonho, dentro dos seus olhos. O Mestre
sabe que todos os homens são seres alados por nascimento, e que só se esquecem
da vocação pelas alturas quando enfeitiçados pelo conhecimento das coisas já
sabidas. Ensinou o que sabia. Agora chegou a hora de ensinar o que não sabe: o
desconhecido.
Volta-se então na direção oposta, o mar imenso e escuro, onde a luz do sol ainda não chegou. “É este o seu destino. Os poetas o têm sabido desde sempre: A solidez, da terra monótona,/ parece-nos fraca ilusão./ Queremos a ilusão do grande mar,/ multiplicada em suas malhas de perigo”.(Cecília Meirelles).
“É preciso navegar. Deixando atrás as terras e os
portos dos nossos pais e avós, nossos navios têm de buscar a terra de nossos
filhos e netos, ainda não vista, desconhecida”. (Nietzsche).
Mas, para estas aventuras meus mapas não lhe bastam.
Todos os diplomas são inúteis. E inútil todo saber aprendido. Você terá de
navegar dispondo de uma coisa apenas: os seus sonhos. Os sonhos são os mapas
dos navegantes que procuram novos mundos. Na busca dos seus sonhos você terá de
construir um novo saber, que eu mesmo não sei... e os seus pensamentos terão de
ser outros, diferentes daqueles que você agora tem.
O seu saber é um pássaro engaiolado, que pula do
poleiro a poleiro, e que você leva para onde quer.Mas dos sonhos saem pássaros
selvagens, que nenhuma educação pode domesticar.
Meu saber o ensinou a andar por caminhos sólidos. Indiquei-lhe as pedras firmes, onde você poderá colocar os seus pés, sem medo. Mas o que fazer quando se tem de caminhar por um rio saltando de pedra em pedra, cada pedra uma incógnita? Ah! Como são diferentes os corpos movidos pelo sonho, do corpo movido a certezas. “Sobre leves esteios o primeiro salta para diante: a esperança e o pressentimento põem asas em seus pés. Pesadamente o segundo arqueja em seu encalço e busca esteios melhores para também alcançar aquele alvo sedutor, ao qual seu companheiro mais divino já chegou. Dir-se-ia ver dois andarilhos diante de um regato selvagem, que corre rodopiando pedras: o primeiro, com pés ligeiros, salta por sobre ele, usando as pedras e apoiando-se nelas para lançar-se mais adiante, ainda que, atrás dele, afundem bruscamente nas profundezas. O outro, a todo instante detém-se desamparado, precisa antes construir fundamentos que sustentem seu passo pesado e cauteloso; por vezes isso não dá resultado e, então, não há Deus que possa auxiliá-lo a transpor o regato”.(Nietzsche). Até agora eu o ensinei a marchar. É isto que se ensina nas escolas. Caminhar com passos firmes. Não saltar nunca sobre o vazio. Nada dizer que não esteja construído sobre os sólidos fundamentos. Mas, com o aprendizado do rigor, você desaprendeu o fascínio do ousar. E até desaprendeu mesmo a arte de falar. Na Idade Média (e como a criticamos!) os pensadores só se atreviam a falar se solidamente apoiados nas autoridades. Continuamos a fazer o mesmo, embora os textos sagrados sejam outros. Também as escolas e universidades têm os seus papas, seus dogmas, suas ortodoxias.
Meu saber o ensinou a andar por caminhos sólidos. Indiquei-lhe as pedras firmes, onde você poderá colocar os seus pés, sem medo. Mas o que fazer quando se tem de caminhar por um rio saltando de pedra em pedra, cada pedra uma incógnita? Ah! Como são diferentes os corpos movidos pelo sonho, do corpo movido a certezas. “Sobre leves esteios o primeiro salta para diante: a esperança e o pressentimento põem asas em seus pés. Pesadamente o segundo arqueja em seu encalço e busca esteios melhores para também alcançar aquele alvo sedutor, ao qual seu companheiro mais divino já chegou. Dir-se-ia ver dois andarilhos diante de um regato selvagem, que corre rodopiando pedras: o primeiro, com pés ligeiros, salta por sobre ele, usando as pedras e apoiando-se nelas para lançar-se mais adiante, ainda que, atrás dele, afundem bruscamente nas profundezas. O outro, a todo instante detém-se desamparado, precisa antes construir fundamentos que sustentem seu passo pesado e cauteloso; por vezes isso não dá resultado e, então, não há Deus que possa auxiliá-lo a transpor o regato”.(Nietzsche). Até agora eu o ensinei a marchar. É isto que se ensina nas escolas. Caminhar com passos firmes. Não saltar nunca sobre o vazio. Nada dizer que não esteja construído sobre os sólidos fundamentos. Mas, com o aprendizado do rigor, você desaprendeu o fascínio do ousar. E até desaprendeu mesmo a arte de falar. Na Idade Média (e como a criticamos!) os pensadores só se atreviam a falar se solidamente apoiados nas autoridades. Continuamos a fazer o mesmo, embora os textos sagrados sejam outros. Também as escolas e universidades têm os seus papas, seus dogmas, suas ortodoxias.
Parauapebas, 29/01/03.